terça-feira, 29 de abril de 2008

Lembranças de infância








Se hoje em dia toda menina sonha com uma Barbie, na minha infância todas desejávamos uma Susie. Naquele tempo não havia a quantidade de apetrechos que hoje são acompanhamentos obrigatórios ( o namorado, o carro, a casa, etc). Bastava-nos a boneca e as roupas.

As roupas exerciam um fascínio impressionante sobre nós, pois nos permitiam transformá-las ( e a nós mesmas, por tabela), numa infinidade de personagens deslumbrantes. Como a variedade disponível para compra não era tão grande ( como também não eram os recursos para sua aquisição), passávamos tardes sem fim elaborando os mais belos modelos. Talvez nenhum deles passasse pelo crivo de Alexandre Herkovich mas, para nós, eram preciosidades incomparáveis. Além do mais, possuíamos uma fonte inesgotável de fornecimento de matéria prima: Tia Zilda, a melhor costureira que conheci até hoje.

A vida era, naquela época, de uma simplicidade absurda. Tudo o que se esperava de nós era que freqüentássemos a escola, fizéssemos o dever de casa e pronto. Liberdade total para ser o que éramos: crianças sequiosas por aventuras, por descobrir o mundo, por explorar todas as possibilidades de aprendizagem e brincadeiras.

Uma das mais marcantes lembranças daquela época foi resultante, digamos, da “coalizão” do que eu dizia acima. Minha irmã mais nova estava encantada com algo que aprendera na escola: um belo feijãozinho, se colocado num algodão umedecido, brotava e segundo a professora, se plantado, daria muitos outros feijões. Ela observava encantada a sementinha transformar-se em raminho, abrir folhinhas. Para nós, que já havíamos plantado nossos feijões, aquilo já não apresentava a menor graça, de forma que não prestamos a menor atenção, nem a ela, nem ao incauto feijão do qual ela cuidava com tanto desvelo.

E o feijão teria passado em branco, como certamente passaram milhões de feijões ao longo da vida estudantil de crianças de todo o mundo, se um dia não a tivéssemos encontrado, aos prantos, sentada no quintal, ao lado de uma quantidade considerável de montinhos de terra, dizendo que não havia brotado. Perfidamente, como só as crianças são capazes de fazer, ficamos inquirindo-a. Afinal, qual era o motivo de tamanha tristeza? Enquanto um lado nosso estava curioso, o outro aguardava ansiosamente o momento de desatar a rir. Afinal, ela era nosso alvo freqüente.

No entanto, daquela vez, o fato relatado fez com que nós todas chorássemos, menos por solidariedade e mais numa mistura de tristeza, indignação e raiva. Minha tão caprichosa irmã plantara, no intuito de nos surpreender, todas as roupinhas de Susie.
T O D A S !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Não brotaram, claro. Na verdade, a totalidade delas não pode ser salva.

Apesar das gargalhadas que hoje a história ainda rende, penso que duas lições aprendi com isso tudo. A primeira é que nunca, mas nunca mesmo, devo subestimar uma irmã mais nova, por mais inofensiva que ela possa parecer. A segunda é que, por mais tentada que me veja a continuar regando e cuidando de sementes, tenho que estar atenta, pois roupas de Susie tem o péssimo costume de não brotar.
Crédito de imagem: Brites dos Santos

domingo, 27 de abril de 2008

Silêncio





Estado paradoxal.

A boca cala,
o peito grita.

A mente, em torvelinho,
preenche lacunas.

O mais sem sentido dos estados,
É aquele que mais possibilidades possui.

Inquietante.
Torturante.
Devastador.

Quedo-me,
silenciosamente,
a espera de apaziguadora sensação

Imagem:Dominique Lefort (DomiL)

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Sonho


Arraial do Cabo - RJ

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Festival América do Sul (FAS)


Imagem Oficial do 5 FAS


Acontece em Corumbá, de 30 de Abril a 04 de Maio, a 5 edição do Festival da América do Sul (FAS).

Mais do que uma oportunidade impar de contato com a cultura dos países vizinhos, o FAS, por suas características peculiares, transformou-se num instrumento de inclusão social.

A participação maciça da população, nas diversas formas de manifestações culturais, tornou-se um diferencial .

O teatro nas esquinas, a música no meio da praça, bem como várias outras formas de expressão que podem ser encontradas nos mais inusitados pontos da cidade, favorecem um contato direto, inebriante e enriquecedor do artista com o espectador, muitas vezes um transeunte desavisado.

Sempre que possível trarei novidades sobre a programação. Maiores informações no site: http://www.festivalamericadosul.com.br/

Simultaneidade



Imagem: Victoria

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Agonia expectante


Ampulheta mórbida.

Os segundos escoam, numa lentidão repleta de sentimentos desencontrados, de lembranças que se sobrepõem.

Quero notícias e, ao mesmo tempo, não as quero, pois as temo.

Imagino o soro pingando lentamente, tal qual pingam em mim recordações dispersas de bons e maus momentos.

O bisturi que abre caminho no corpo momentaneamente sem reações é o mesmo que, a distância, rasga emocionalmente minhas entranhas.

Sinto-me aberta, exposta. O medo recrudescente engolfa-me por inteiro.

Do fundo da minha impotência, um único pensamento martela, de forma insistente:

Fecha-me! Fecha-me... com vida!!

Imagem: Jeff Alu

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Opções



OU ISTO OU AQUILO

Ou se tem chuva ou não se tem sol,
ou se tem sol ou não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo dinheiro e não compro doce,
ou compro doce e não guardo dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Cecília Meireles
Crédito de imagem: Fernando Dinis

domingo, 13 de abril de 2008

Renovação







Um dia, ao acaso, você olha ao redor e, incredulamente, se pergunta: Quando? Como?
Brotou e você não viu. Ou se viu, não enxergou. Fato é que a vida tornou-se mais colorida, com mais odor, mais beleza e intensidade. Magia? Sim, pura magia. Tudo mudou? Não! Você mudou, e, conseqüentemente, as coisas adquiriram outras tonalidades, outros sabores e sons. As velhas estradas tornaram-se novas, o já trilhado resultou num leque de novas possibilidades.


Você se vê, então, frente a algo desejado mas infinitamente novo e, por conseguinte, amedrontador, como o são, inicialmente, todas as grandes novidades Talvez porque esperemos, sempre, que a felicidade venha em embalagens enormes, acabamos não nos dando conta de que um pequeno pedaço de gente é capaz de redimensionar toda uma existência.


Começa a se formar então , dentro do peito, um sentimento que vai crescendo de forma avassaladora e que, não podendo mais ser contido, começa a extravasar pelos poros. Inicialmente de forma tímida; um balbucio, baixinho, quase envergonhado: Estou feliz! Então, a avalanche explode de forma desenfreada e seus olhos, seu sorriso, seu corpo todo passa a exprimir uma inexorável verdade: Não, eu não estou... Eu sou feliz!!!!!!!!!!


Texto escrito por ocasião do nascimento do João Victor

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Caso Isabella – Um novo BBB???

É impossível ler ou ouvir um noticiário sem que se ouça, obrigatoriamente, alguma “novidade” a respeito da morte da menina Isabella.

Notícias do tipo: “ A família visitou um zoológico em 2004” .. seguida da já automática continuação: “ A menina Isabella Nardoni foi arremessada...”.

Fascinada que sou por ciência forense, desde o principio me chamou atenção a postura quase amadora com que supostas descobertas eram noticiadas.

Algum delegado, aproveitando seus quinze minutos de passagem pelo palco, soltava de forma fortuita uma nova descoberta, ainda sujeita a comprovação.
“ Ao que tudo indica, havia sangue na maçaneta do carro..” .

“Foi comprovado que a mancha encontrada na maçaneta não era de sangue, mas nossos peritos tiveram dificuldades para determinar o fato, devido ao tamanho da mancha, que era muito pequena”

Como??? Nem precisa ser perito forense para perceber o absurdo da afirmação. Basta assistir a qualquer episódio de CSI. Documentários sérios seriam ideais, mas alguns episódios de CSI já teriam permitido que o brilhante delegado não tivesse seu convite para a festa do céu cancelado.

E a imprensa... Ah! a imprensa. Noticia com estardalhaço cada gota de saliva que algum boçal expele.

Pai e madrasta já devidamente condenados pela opinião pública, o BBB segue, noticiando até mesmo quem se alimentou ou não.

As notícias continuam a alimentar a indignação pública e, numa manutenção do círculo vicioso, a população busca mais e mais informações.

E eu me percebo, então, perplexa, entristecida, estarrecida... furiosa!!!

Com quantas Isabellas nos deparamos no dia-a-dia, arremessadas nas sarjetas, ou nas esquinas, limpando vidros de carros ou vendendo doces?

Quantas Isabellas são diariamente agredidas, quer estejam dormindo ou não?

Será nossa omissão cotidiana que nos faz clamar justiça num caso específico? Ou simplesmente nos deixamos levar pela cobertura da mídia, que de longa data descobriu que Isabellas pobres não vendem tanto quanto as bonitas de classe média?

Triste descoberta a que se faz quando se percebe que, se teoricamente somos todos iguais perante a Lei, não o somos perante nossos próprios semelhantes.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Delicadeza


Delicadeza não é fragilidade.

É, talvez, uma mistura em proporções exatas de força, beleza, meiguice, maturidade.

É delicado aconchegar alguém, mas também é delicado ser sincero, mesmo que sua sinceridade não vá de encontro às expectativas alheias.

É delicado acariciar, mas é igualmente delicado colocar seu dedo na ferida, se isso pode ser feito de forma à favorecer a reconstrução da parte danificada.

É ser firme, sem agredir.

É pedir colo, sem se tornar um peso.

É estar presente quando o outro precisa, sem fazer alarde ou impor sua presença.

É só gerar nos outros sentimentos pelos quais está disposto a se responsabilizar.

Delicadeza é, enfim, a rara capacidade de se fazer presente sem ofuscar, de ser forte sem tolher, de brilhar sem necessitar ser estrela.

É ser capaz de se fazer especial pelos seus atos e não pelas tentativas de sê-lo.