quinta-feira, 31 de julho de 2008

Nós não merecemos um País melhor






Algumas coisas me causam tamanha indignação e perplexidade que, por mais que eu queria não falar sobre elas, isso me é impossível. Não há um dia sequer em que eu não ouça alguém reclamando sobre as mais variadas situações da vida cotidiana: sobre o preço dos alimentos, sobre a violência, sobre a “roubalheira” governamental, sobre o caos educacional, a situação precária da saúde e por aí vai. A ênfase que é dada a reclamação depende basicamente do quanto “ o reclamante” foi diretamente atingido pelo assunto em questão. Entretanto, independente do quanto se sinta lesado, este nada faz além de falar, falar e falar. A sensação que tenho, por vezes, é de que existe uma classe de “reclamantes de plantão”. O ato de reclamar tornou-se, ao que parece, um fim em si mesmo; assemelha-se, a meu ver, a uma espécie de masturbação vocal.

Não sei quantas das pessoas que me lêem já tiveram oportunidade de visitar os blogs que eu relacionei como favoritos. Talvez uma, ou duas, ou vinte, ou nenhuma. O fato é que, entre meus blogs favoritos, encontra-se o Flávia vivendo em coma. A história da Flávia é uma em meio a tantas outras. É mais uma história cujos componentes são: uma tragédia, um grupo de pessoas se esquivando de assumir suas responsabilidades e uma “justiça” morosa que não cumpre seu papel. No entanto, Odele, ( mãe de Flávia), ao contrário dos plantonistas vocais, vem tomando todas as atitudes que lhe são possíveis para reverter o descaso com que a situação de sua filha foi e é tratada. Uma de suas lutas mais constantes é conseguir espaço na mídia, como forma de divulgar os fatos, evitando que novas tragédias ocorram por desconhecimento e, ao mesmo tempo, tentar exercer uma certa pressão, de forma a ver os direitos a vida de qualidade, para Flavia, serem respeitados.

Odele foi convidada e estará no próximo dia 02/08, as 16:00 horas, na Rede Record, fato que foi divulgado em seu blog. Eu, (como tantas outras pessoas) ao saber do fato, procurei divulgá-lo e o fiz da única forma que podia: através do meu blog, postando e, em alguns casos específicos, solicitando as pessoas que divulgassem. Não o fiz porque sou legal, porque sou humana ou por ser portadora de qualquer outro belo adjetivo. Fiz isso pura e simplesmente por considerar que é meu dever de cidadã.

Surpreendi-me, por um lado, ao ver que pessoas a quem fui pedir divulgação já o tinham feito; emocionei-me em ver a resposta e a mobilização de outras. E, infelizmente, decepcionei-me ao ver que algumas simplesmente desconsideraram. Cheguei mesmo a ouvir que não entendiam o porque dela não ter aceito o que lhe foi oferecido inicialmente em vez de permanecer lutando. Isso, para mim, soou mais ou menos assim: “Não entendo porque as pessoas reclamam por esperar 30/40 dias para serem atendidas pelo SUS, mais 60 dias para fazerem os exames solicitados e mais 45 para terem a consulta de retorno. Deviam agradecer por ter um sistema público de saúde, já que uma grande parte de paises nem isso oferece.”

Isso tudo me fez pensar, e muito, nas posturas que nós, enquanto cidadãos, temos no nosso dia-a-dia. A omissão, como atitude subjacente, é que me preocupa, porque encontra-se entranhada em praticamente todos os segmentos da população. Perdemos nossa capacidade de indignação, nossa humanidade. Esquecemos que o bem comum é “ comum” e que, para que todos tenhamos uma vida realmente digna, é essencial que todo e qualquer cidadão seja olhado com o respeito que ele merece. Principalmente, precisamos nos lembrar que este olhar não é algo que deve vir do Estado; este nada mais é do que um reflexo das nossas vontades e atitudes. Por isso hoje, mais do que nunca, tristemente digo: Temos exatamente o governo que estamos fazendo por merecer.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Novos rumos





Existe um desejo
latente
de mudanças.

Existe um temor
insidioso
que teima em refreá-las.

Existe um momento
em que o desejo irrompe
torna-se fato .

Estrada aberta
caminho a ser trilhado
Existência.

Crédito de imagem: Markus Zaiser

sábado, 26 de julho de 2008

Esperança






O corpo prostrado, inerte, jazia estatelado em um canto qualquer. Único sinal aparente de vida, o respirar entrecortado por vezes falhava. Estava assim: entregue, desesperançada, quase catatônica.Há muito deixara de lutar; não fazia mais sentido. A energia restante era gasta unicamente no exercício de respirar; no mais, era deixar-se afundar, lentamente, nas areias movediças que agora constituíam sua vida.


E então, sem que soubesse bem de onde, uma brisa toca-lhe o rosto, suavemente, como uma espécie de caricia alentadora. O suave toque parece despertá-la do estranho torpor, infundindo-lhe uma centelha ínfima de sobrevida. Ela se agita, respira mais fortemente. O ar que agora inunda seus pulmões parece finalmente ser suficiente para mantê-la viva. Os olhos abrem-se, observam o espaço circundante. Ela vislumbra possibilidades.

O toque, despretensioso, teve o efeito de um bálsamo sobre sua tão cansada existência. Pequeno gesto que mudou um caminho aparentemente já traçado. Ela, finalmente, abandona a morte em vida.


Imagem retirada da internet. Desconheço o autor

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Impotência





Sensação angustiante.

A situação está lá
te olhando de esguelha,
rindo de você.

O peito se aperta
a mente dispara
buscando soluções.

Você endoidece
vê o mundo fugindo
por debaixo dos pés.

E luta
se contorce
para por fim
prostrar-se.

Crédito de imagem: Aleksandr Krivickij

terça-feira, 22 de julho de 2008

Entrega





Vem!
Vem devagarinho
Chega de mansinho
Se apossa de mim.


Vem!
Que me perco em teus braços
Repleta do teu calor
Impregnada do teu odor.


Vem!
Quero enlouquecer de paixão
Perder-me num turbilhão
E em teu peito descansar... feliz!

Crédito de imagem: Shubina Olga

sábado, 19 de julho de 2008

Paradoxo


Já perdi a conta do número de vezes em que alguém me disse: você é uma mulher forte. Imagino que seja, se bem não tenha muita certeza do que essa palavra realmente significa. Se “ser forte” é não parar para reclamar das coisas que acontecem e tentar tirar o máximo proveito delas, como experiências que são, então sou realmente forte.

Entretanto, quando olho para dentro de mim, vislumbro uma delicada teia de sentimentos. A trama de que sou feita é assim: intrincada, multicolorida, multifacetada; tem, como ponto comum, no entanto, a delicadeza. Sou feita de material delicado, mas o entrelaçamento da minha história gerou uma textura resistente.

E é dessa forma que me percebo: tal qual uma borboleta, que apesar da aparente fragilidade de suas asas, sabe-se capaz de empreender longos vôos ; desfrutando dos ventos, mas no controle absoluto do seu planar.

Crédito de imagem: Regina Lopes

Dia do Amigo


Este selo me foi oferecido pela Sonia Regly, do blog Compartilhando as Letras.
Obrigada, Sonia!!!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Sentir e existir





Sensibilidade é a incandescência dos sentimentos. Não importa a qualidade do que se sente; quando o sentir extrapola nossa capacidade de contenção, vaza por todos os poros. Tornamo-nos, então, pólo irradiador. Um simples gesto, uma palavra, um olhar... qualquer coisa basta para que o sentimento se propague em ondas por todo nosso ser.

De forma concomitante, o nosso sentir funciona com uma espécie de imã. Aquilo que em dado momento nos preenche serve como atrativo ou repelente para os que estão a nossa volta. O mesmo acontece conosco em relação a outras pessoas. Vemo-nos, muitas vezes sem explicação, surpreendentemente bem só por estarmos junto de alguém; outras vezes, a simples presença nos incomoda, nos torna tristes , irritados.

Quantas vezes observamos pessoas reclamando que freqüentemente são vitimas de incompreensão, que ninguém gosta delas, que não tem sorte. O mundo, segundo elas, parece conspirar para que tudo de ruim lhes aconteça.

Então, eu paro e me pergunto: será o mundo? ou serão elas? Que espécie de sentimentos cultuam? Que conversas mantém? O que vaza de seus poros? As abelhas são atraídas pelas flores; hienas pela carniça. Se ando atraindo hienas, não posso culpá-las. Tenho sim que verificar o cheiro que ando espalhando pelos caminhos que trilho. O mundo não me fará absolutamente nada que eu não permitir que ele me faça; ao contrário, ele me responde na mesma proporção que atuo sobre ele. Quando eu me responsabilizar por todos os meus atos, e somente então, terei a paz e felicidade que acho que me são devidas.

Imagem da internet. Desconheço o autor

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Do amor que queremos





Eu te quero, grande amor
Anseio contigo falar e calar
Gargalhar, sorrir, e em teus braços, acolhida, chorar.


Quero discutir minhas idéias,
Dividir indagações e indignações.
Quero saber de você e te dizer de mim.


Quero sentir meu corpo reagindo loucamente ao teu
E depois, serenamente, repousar a cabeça em teu peito
E experimentar a paz.


Ah! como te quero, grande amor
Como anseio por encontrar-te
Como desejo perder-me em tuas vicissitudes.


Ah! imenso e utópico amor
Brinde-me com a tua chegada
Que explodirei na mais pura e intensa felicidade!


Lucia Vianna

Crédito de imagem: Georg Suturin

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Felicidade


Algumas pessoas são imprescindíveis na vida da gente. Mãe, com certeza é uma delas. Claro que ninguém nasce se não tiver uma mãe, mas não é dessa necessidade que eu falo. Falo daquelas mães que dá prazer a gente ter por perto. Daquelas que brincam, brigam, implicam com tudo, mas fazem as comidas que você gosta; dão uma bronca, mas estão sempre disponíveis quando você precisa. Enfim, fala das mães de verdade, mães-pessoas.
Fazem dois anos que não vejo minha mãe. Falo com ela freqüentemente; agora, então, que a danada aprendeu a usar a internet, faço isso todos os dias. Ela é esse tipo de mãe presente, apesar da distância física ser grande. No entanto, por mais que estejamos próximas, a presença física faz muita falta, e não tenho vergonha de dizer que morro de saudades dela. Ou, sendo mais precisa, morrerei de saudades até amanhã, porque amanhã ela estará aqui comigo. E por causa disso, hoje estou feliz, tão feliz como há muito tempo não me sentia.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Sobre limpar armários




Quem já não se viu com um enorme armário para arrumar? Pode ser qualquer tipo de armário: um guarda-roupas, uma estante de livros ou outro qualquer. O fato é que qualquer local que guarde nossas coisas tem que ser por nós arrumado, em um momento ou outro. Podemos, claro, delegar essa função a uma terceira pessoa, mas quase certamente o resultado não ficará exatamente do nosso gosto. Mas voltando ao prosaico ato de arrumar o armário: qual é a melhor forma de faze-lo? Podemos optar por dar uma arrumada geral, sem nos determos muito no que está contido lá dentro. Basta, para isso, colocar as coisas numa aparente ordem e o aspecto geral será bem bonito. Só não dá para garantir que esteja exatamente arrumado e, quase certamente, teremos dificuldade para encontrar coisas “escondidas”; logo, logo, o espaço será pequeno, novamente, isso sem contar que, dependendo do que estiver mais no fundo, corremos o risco de surgimento de mofo, cupins.A outra forma de se limpar um armário é mais trabalhosa: temos que tirar tudo de dentro dele, separar o que presta e o que não presta mais, limpar cada um dos objetos e, só então, tornar a coloca-los dentro, numa nova ordem. Está forma de limpeza é, por vezes, mais dolorida, também, porque ao procedermos a limpeza não raramente nos deparamos com objetos que nos trazem lembranças (boas ou ruins) e, muitas vezes, temos inclusive que nos desfazermos deles.

Assim também acontece com nosso armário interno. Vamos acumulando, ao longo da vida, uma infinidade de experiências e sentimentos. E,da mesma forma que fazemos com os armários de nossa casa, temos que limpar os armários da nossa alma. Já ouvi, vezes sem conta, pessoas dizendo, a respeito de algum sentimento:

- Esquece, vai passar.
Não vai, não passa, só fica enfiado no armário. A única forma de realmente passar é tirando-o para fora, limpando e avaliando se merece ser recolocado ou jogado fora. Pode ser bem mais dolorido fazer este tipo de limpeza, porém é, de longe, bem mais eficaz e digno. Se algo nos causa sofrimento, melhor sofrer de uma vez, encarando de frente e tendo o controle da situação; do contrário, corremos o risco de abrirmos o armário e tudo “despencar” na nossa cabeça. Aí, certamente, a dor é muito maior.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Lembranças




Qual adicto em recuperação, busco superar o vazio da sua falta. Procuro não pensar, não lembrar, não sentir. Mas de repente, quando me encontro descuidada, acontece. As lembranças brotam, jorram, me inundam. Imagens das suas expressões invadem meu pensamento: o sorriso, o parar pensativo, o choro contido, o gozo irrefreável, o olhar carinhoso. Procuro esvaziar-me dos sentimentos que isto traz; mas a dor vem, forte, intensa, avassaladora. Então me calo, me encolho. Já consigo não chorar. Somente respiro, fundo, e tento seguir vivendo.

Crédito de imagem: Natalia Zamkovaia

domingo, 6 de julho de 2008

Contemplação



Olho no espelho. A face que me fita tem algumas particularidades. A pele já não é tão lisa como há anos atrás. Trago ao redor dos olhos algumas graciosas rugas, conseqüências do ato de sorrir. Nestes mesmos olhos, brilhantes, é possível vislumbrar uma profundidade adquirida com os anos; eles espelham uma infinidade de sentimentos. As vezes me pergunto se é mesmo possível entrever tudo isto no meu olhar, ou se somente eu, por saber de minhas interioridades, os identifico.

Meu olhar desliza agora para minha boca. Nela não percebo muitas diferenças. É a mesma que prefere sorrir a ostentar rictos, quaisquer que sejam os motivos que poderiam levar a eles. Ainda a percebo sequiosa por beijos, mas muito mais contida nas palavras. Atualmente ela fala menos, mas o faz com mais precisão.

Observo meu queixo. Voluntarioso... mas isso sempre foi. Hoje, talvez, erga-se menos arrogantemente do que antes; entretanto, mostra a mesma força, empregada mais em situações que a requerem do que em embates juvenis, muitas vezes desnecessários.

Olho no espelho. Gosto do rosto que me fita. Gosto das pequenas marcas, emblemáticas que são de uma vida rica em história. Gosto da mulher por trás do rosto. Gosto de mim.


Crédito de imagem: Maria Pleshkova

sábado, 5 de julho de 2008

Navegando no Rio dos Sonhos

Maria Auxiliadora N. Figueiredo Nery é professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Atuou como colaboradora, juntamente com outros professores do CPAN, acadêmicos e artistas da Cia da Lona e Cia de Teatro Maria Mole em um projeto belíssimo que estava sendo desenvolvido por alguns alunos junto as comunidades ribeirinhas do Rio Paraguai. O projeto, denominado “ Navegando no Rio dos Sonhos”, tinha como objetivo levar novas experiências a estas comunidades (comunidade e escolas), através de apresentações circenses, músicas, dança, teatro, palestras informativas sobre educação ambiental, oficinas de criação de arte, promovendo formas lúdicas de educação. Mais de 700 espectadores assistiram as 27 apresentações, abrangendo 127 famílias ao longo de 290 km do rio.As fotos abaixo mostram um pouco da belíssima paisagem pantaneira e alguns dos momentos das apresentações do alunos.

Projeto Navegando no Rio dos Sonhos

Clique sobre o album para ver as fotos.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Enrodilhada



Hoje me sinto cansada. Não é um cansaço daqueles que se desaparece facilmente, com uma boa noite de sono. Trata-se, na verdade, de um cansaço que está além daquilo que eu possa resolver por mim mesma; brota da alma, dói nos ossos, entorpece meu sentir. Diria que é um cansaço colecionado ao longo de uma vida, que a exemplo de um mosaico, foi sendo assentado pedacinho por pedacinho até formar o desenho final que hoje estampo. Estou em paz, mas paradoxalmente encontro-me destituída de energia.

Mergulhada na inércia, observo-me. Percebo-me constituída por uma infinidade de sentimentos diferentes, muitos dos quais algumas pessoas teimam em dizer excludentes. Sou assim: uma mulher de múltiplas facetas. Existe um lado meu que reflete, outro que chora, outro que brinca com a felicidade e despreocupação de uma criança que pula amarelinha. Nenhum deles é exatamente preponderante; eles se alternam, como aliás tudo na vida. E embalada pela certeza dessa alternância, simplesmente aguardo.

Crédito de imagem: Alex K

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Recônditos de mim



Sentada nas pedras, observo o mar atirar-se contra elas. Das águas saltam borrifos que me atingem o rosto. Seu cheiro impregnante ocupa as minhas entranhas. Acompanho com os olhos sua dança contínua.

Meus pensamentos mergulham na imensidão salgada. Vagam soltos, como pedaços de algas que se desprenderam da colônia. Assim também me sinto. Como alguém que há séculos atrás decidiu abrir mão da segurança limitante e lançou-se na imensidão. O mundo circundante adquire, a medida que me desloco, contornos diferenciados. Sentimentos se sucedem: alegria, medo, curiosidade, paixão, tristeza... tenho a minha disposição um sem fim de possibilidades. E assim flutuo... observo... sinto.

A paz envolve a minha alma.

Crédito de imagem: Nuno Milheiro