quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Feliz Natal !!


A todos os amigos, um Natal cheio de luz, paz e felicidade!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

João - Um ano de alegrias!!!!


Porque não existem palavras para te falar do amor que sinto... Parabéns!!!!

sábado, 29 de novembro de 2008

Erupção



Eis me aqui
Nua
Entregue.


Despi-me de cada véu protetor,
Estraçalhei cada muralha que me cercava.


Eis me aqui
Sua
Rio de lavas: me navegue.



Lucia Vianna


Crédito de imagem: Georg Suturin

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Poema para Dora



Força
Fragilidade
Coerência
Sensibilidade.


Menina-mulher
Sonhadora tenaz
Mãe leoa
Realizadora contumaz.


Amiga
Irmã
Elo sólido
Em meio a certeza vã.


Lucia Vianna

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Quasar



Inebriante.
Inexplicável.
Inigualável.


Perfeitamente completo,
Completamente perfeito.
Me mantém sob seu jugo,
É senhor de todo efeito.


Me vira, revira,
Me faz levitar
Aperta meu peito
Me tira o ar.


É fascínio,
É quase um estertor,
É paixão pura,
É o mais terno e significativo amor...


Lucia Vianna



Imagem retirada da internet

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Da minha floresta



O vento suave
traz o cheiro da terra,
o perfume das arvores.


Evoca na memória
lembranças de uma vida,
de guardados inesquecíveis.


O odor da terra,
da sua terra,
alimenta suas raízes.


Paira no ar
Um cheiro de felicidade.


Lucia Vianna



Crédito de imagem: Tomasz

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Viver


Amar é vermelho,
nos diversos graus de intensidade
Sonhar é branco,
com respingos de felicidade.


Compreensão é marrom,
com cheiro de chocolate
Tristeza é cinza
E aperta tanto, que nem o coração bate.


Entender pode ser verde
com nuances de anil
Desprezar é cor de lodo
Não admite nem rima pueril.


Viver é assim
uma infinita mistura de cores.
Faz sorrir, faz chorar
Numa explosão de sentimentos, cheiros e sabores.



Crédito de imagens: Wahid Noureldin

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Blogagem coletiva - Justiça para Flávia


Há dez anos, sem direito a opção, Flávia passou a habitar um mundo próprio. Desde então sua mãe tenta , através dos meios legais, assegurar-lhe condições dignas de vida. Lutando contra a morosidade da justiça brasileira, ela ergueu uma bandeira e, aos poucos, todos os que dela foram se aproximando passaram a partilhar de sua indignação e a admirar sua coragem.
Flávia não fala, mas hoje, especialmente, pessoas do mundo todo juntaram-se para dar voz a ela e exigir que seus direitos de cidadã sejam respeitados. Não estamos pedindo nada; só queremos que a justiça seja feita e que os culpados sejam punidos.
Aos que quiserem saber mais sobre a história da Flavia, basta visitar o blog: Flavia vivendo em coma : http://flaviavivendoemcoma.blogspot.com/


Imagem retirada do blog: Adesenhar ( Ponte JK - Blogs aderentes entram em Brasilia para a blogagem coletiva)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Reencontro desencontrado




Sala vip
Um vidro divisório
Parte de um futuro despede-se do lado de fora.

Um vôo
Um olhar que paira
sobre possibilidades.

Nova sala
Bagagem na mão
A porta se abre
O passado encontra-se com o presente.


Lucia Vianna


Foto: O fim da noite
Fotógrafo: Oleg Lobachev

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Poema


Gastei uma hora pensando em um verso


que a pena não quer escrever.


No entanto ele está cá dentro


inquieto, vivo.


Ele está cá dentro


e não quer sair.


Mas a poesia deste momento


inunda minha vida inteira.



(Carlos Drummond de Andrade)

Por motivos pessoais estarei afastada do blog por um tempo. Deixo um beijo carinhoso a quem me visita. Logo estarei de volta.

domingo, 24 de agosto de 2008


É preciso algo que nos preocupe

Para acabar com a monotonia.

Briga com a sogra, duvida

De tua vida, de Deus, de tudo,

Das próprias coisas que melhores julgas,

Porque, na verdade,

Não há nada mais chato na vida

Do que um cachorro sem pulgas...



[Mario Quintana; Velório sem defunto, 1990]

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Sem palavras


Procuro em mim algo que possa descrever o momento que estou vivendo. Essa espécie de sensação de não pertencer a lugar nenhum. O que hoje habito, o conhecido, não mais me pertence. Meu é o que desconheço, o que ainda não alcancei, aquilo que não sei. Sentimentos paradoxais ocupam meu peito e se sucedem numa velocidade vertiginosa.
Pouco sei de mim... tudo sei de mim.
Sou, no momento, uma total ausência de palavras. Sou, somente, interrogações e exclamações.

Crédito de imagens: derek

sábado, 16 de agosto de 2008

Mudanças





Temer... mudar
Sofrer... sonhar
Decisão tomada
Mala arrumada.

Lágrimas silentes
escorrem de olhos sorridentes

Um ciclo findou.

Lucia Vianna

Crédito de imagem: Jaroslav Pavlovich

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Perfume de Coração






Há alguns anos eu conheci uma pessoa que escrevia. Textos engraçados, textos doloridos, textos reflexivos. Enfim... escrevia a vida. Eram textos bonitos, mas estavam espalhados em algumas pastas de um computador. Então, enchendo-se de coragem, juntou-os, todos, e os textos espalhados viraram um blog. A aceitação foi imediata. Muitas pessoas começaram a elogiar e a pedir que escrevesse mais e mais. Ele, então, pôs-se a escrever mais; porém, não parou por aí. Começou a incentivar outras pessoas a escreverem também. Eu mesma sou uma que posso dizer que foi ele quem me deu voz. Se tenho hoje este blog, devo isso diretamente a insistência e persistência desta pessoa. E, como se costuma dizer, Deus sempre está atento as nossas ações, um outro alguém, também dono de um grande coração, apostou no seu trabalho e o resultado se fez presente.

A Bienal Internacional do Livro estará acontecendo, como todos sabem, em São Paulo, de 14 a 24 de Agosto, e este escritor, que se deu e nos deu voz, estará lançando seu primeiro livro: Perfume de Coração . Mais do que um livro, isto é o resultado de uma vida de perseverança e de um talento em transformar pequenos eventos em grandes textos. Aos que puderem ir a Bienal, deixo meu convite para participarem deste momento único de uma pessoa talentosa, de um blogueiro como nós. Aos que não puderem, tentem ao menos adquirir o livro pela internet, pois asseguro que vale a pena. Quem quiser “uma palhinha”, pode visitar o blog; tenho certeza de se emocionarão.

Parabéns, Paulo Moreira!!!!!

Blog Perfume de Coração: http://gluckall.blogspot.com/

sábado, 9 de agosto de 2008

Ver...dades






Eu não minto!
frase corriqueira
quem a diz
nem titubeia.

Eu omito?
nisso não pensei
afinal a omissão
nem Deus contemplou em Lei.

Melhor continuar pensando
que sou seguidor da verdade absoluta
e que a minha omissão
não desrespeita e nem machuca.


Lucia Vianna

Crédito de imagem: Sergey Militsky

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Prece


Perante a encruzilhada
Dá-me sabedoria
para optar pelo caminho correto.

Caso eu não o faça
Concede-me graciosidade
para trilhar caminhos dificultosos
sem tornar-me um peso para mim e para os que me rodeiam.

Se o cansaço ameaçar soterrar-me
Não me deixe esquecer de que fibra sou feita;
Faça-me bambu
Para que me vergue, mas não me quebre.

E, para o caso de eu fazer a escolha certa,
Permita que o brilho da minha alegria
contagie os que comigo convivem.

Enfim, mas não menos importante
Independente da minha escolha
Conceda-me humildade para agradecer, sempre
Pois ambos os caminhos me enriquecem
Ainda que por vias diferentes.


Lucia Vianna
Crédito de imagem: Bojan Bonifacic

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Encantamento





Um pingo
pinga.

Uma lágrima
rola.

Um sorriso
acende os olhos
ilumina o rosto
e faz brilhar a alma.

Lucia Vianna


Imagem da internet

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Compasso novo





Sonhe
Sonhe teu sonho mais lindo
Abre teu mundo para as cores
E deixa-te impregnar de odores.

Solta teu riso
Deixe-o contagiar tua face
Cante, dance
Voe se for possível.

Imprime um ritmo novo a tua vida
E deixe-se levar por ele
Sacode teu corpo, balance tua alma
Rodopie ao som de uma musica imaginária.

Brinque
Brinque muito
Deixe o peito explodir de alegria
A noite finalmente acabou.


Lucia Vianna

Crédito de imagens: Victoria

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Nós não merecemos um País melhor






Algumas coisas me causam tamanha indignação e perplexidade que, por mais que eu queria não falar sobre elas, isso me é impossível. Não há um dia sequer em que eu não ouça alguém reclamando sobre as mais variadas situações da vida cotidiana: sobre o preço dos alimentos, sobre a violência, sobre a “roubalheira” governamental, sobre o caos educacional, a situação precária da saúde e por aí vai. A ênfase que é dada a reclamação depende basicamente do quanto “ o reclamante” foi diretamente atingido pelo assunto em questão. Entretanto, independente do quanto se sinta lesado, este nada faz além de falar, falar e falar. A sensação que tenho, por vezes, é de que existe uma classe de “reclamantes de plantão”. O ato de reclamar tornou-se, ao que parece, um fim em si mesmo; assemelha-se, a meu ver, a uma espécie de masturbação vocal.

Não sei quantas das pessoas que me lêem já tiveram oportunidade de visitar os blogs que eu relacionei como favoritos. Talvez uma, ou duas, ou vinte, ou nenhuma. O fato é que, entre meus blogs favoritos, encontra-se o Flávia vivendo em coma. A história da Flávia é uma em meio a tantas outras. É mais uma história cujos componentes são: uma tragédia, um grupo de pessoas se esquivando de assumir suas responsabilidades e uma “justiça” morosa que não cumpre seu papel. No entanto, Odele, ( mãe de Flávia), ao contrário dos plantonistas vocais, vem tomando todas as atitudes que lhe são possíveis para reverter o descaso com que a situação de sua filha foi e é tratada. Uma de suas lutas mais constantes é conseguir espaço na mídia, como forma de divulgar os fatos, evitando que novas tragédias ocorram por desconhecimento e, ao mesmo tempo, tentar exercer uma certa pressão, de forma a ver os direitos a vida de qualidade, para Flavia, serem respeitados.

Odele foi convidada e estará no próximo dia 02/08, as 16:00 horas, na Rede Record, fato que foi divulgado em seu blog. Eu, (como tantas outras pessoas) ao saber do fato, procurei divulgá-lo e o fiz da única forma que podia: através do meu blog, postando e, em alguns casos específicos, solicitando as pessoas que divulgassem. Não o fiz porque sou legal, porque sou humana ou por ser portadora de qualquer outro belo adjetivo. Fiz isso pura e simplesmente por considerar que é meu dever de cidadã.

Surpreendi-me, por um lado, ao ver que pessoas a quem fui pedir divulgação já o tinham feito; emocionei-me em ver a resposta e a mobilização de outras. E, infelizmente, decepcionei-me ao ver que algumas simplesmente desconsideraram. Cheguei mesmo a ouvir que não entendiam o porque dela não ter aceito o que lhe foi oferecido inicialmente em vez de permanecer lutando. Isso, para mim, soou mais ou menos assim: “Não entendo porque as pessoas reclamam por esperar 30/40 dias para serem atendidas pelo SUS, mais 60 dias para fazerem os exames solicitados e mais 45 para terem a consulta de retorno. Deviam agradecer por ter um sistema público de saúde, já que uma grande parte de paises nem isso oferece.”

Isso tudo me fez pensar, e muito, nas posturas que nós, enquanto cidadãos, temos no nosso dia-a-dia. A omissão, como atitude subjacente, é que me preocupa, porque encontra-se entranhada em praticamente todos os segmentos da população. Perdemos nossa capacidade de indignação, nossa humanidade. Esquecemos que o bem comum é “ comum” e que, para que todos tenhamos uma vida realmente digna, é essencial que todo e qualquer cidadão seja olhado com o respeito que ele merece. Principalmente, precisamos nos lembrar que este olhar não é algo que deve vir do Estado; este nada mais é do que um reflexo das nossas vontades e atitudes. Por isso hoje, mais do que nunca, tristemente digo: Temos exatamente o governo que estamos fazendo por merecer.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Novos rumos





Existe um desejo
latente
de mudanças.

Existe um temor
insidioso
que teima em refreá-las.

Existe um momento
em que o desejo irrompe
torna-se fato .

Estrada aberta
caminho a ser trilhado
Existência.

Crédito de imagem: Markus Zaiser

sábado, 26 de julho de 2008

Esperança






O corpo prostrado, inerte, jazia estatelado em um canto qualquer. Único sinal aparente de vida, o respirar entrecortado por vezes falhava. Estava assim: entregue, desesperançada, quase catatônica.Há muito deixara de lutar; não fazia mais sentido. A energia restante era gasta unicamente no exercício de respirar; no mais, era deixar-se afundar, lentamente, nas areias movediças que agora constituíam sua vida.


E então, sem que soubesse bem de onde, uma brisa toca-lhe o rosto, suavemente, como uma espécie de caricia alentadora. O suave toque parece despertá-la do estranho torpor, infundindo-lhe uma centelha ínfima de sobrevida. Ela se agita, respira mais fortemente. O ar que agora inunda seus pulmões parece finalmente ser suficiente para mantê-la viva. Os olhos abrem-se, observam o espaço circundante. Ela vislumbra possibilidades.

O toque, despretensioso, teve o efeito de um bálsamo sobre sua tão cansada existência. Pequeno gesto que mudou um caminho aparentemente já traçado. Ela, finalmente, abandona a morte em vida.


Imagem retirada da internet. Desconheço o autor

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Impotência





Sensação angustiante.

A situação está lá
te olhando de esguelha,
rindo de você.

O peito se aperta
a mente dispara
buscando soluções.

Você endoidece
vê o mundo fugindo
por debaixo dos pés.

E luta
se contorce
para por fim
prostrar-se.

Crédito de imagem: Aleksandr Krivickij

terça-feira, 22 de julho de 2008

Entrega





Vem!
Vem devagarinho
Chega de mansinho
Se apossa de mim.


Vem!
Que me perco em teus braços
Repleta do teu calor
Impregnada do teu odor.


Vem!
Quero enlouquecer de paixão
Perder-me num turbilhão
E em teu peito descansar... feliz!

Crédito de imagem: Shubina Olga

sábado, 19 de julho de 2008

Paradoxo


Já perdi a conta do número de vezes em que alguém me disse: você é uma mulher forte. Imagino que seja, se bem não tenha muita certeza do que essa palavra realmente significa. Se “ser forte” é não parar para reclamar das coisas que acontecem e tentar tirar o máximo proveito delas, como experiências que são, então sou realmente forte.

Entretanto, quando olho para dentro de mim, vislumbro uma delicada teia de sentimentos. A trama de que sou feita é assim: intrincada, multicolorida, multifacetada; tem, como ponto comum, no entanto, a delicadeza. Sou feita de material delicado, mas o entrelaçamento da minha história gerou uma textura resistente.

E é dessa forma que me percebo: tal qual uma borboleta, que apesar da aparente fragilidade de suas asas, sabe-se capaz de empreender longos vôos ; desfrutando dos ventos, mas no controle absoluto do seu planar.

Crédito de imagem: Regina Lopes

Dia do Amigo


Este selo me foi oferecido pela Sonia Regly, do blog Compartilhando as Letras.
Obrigada, Sonia!!!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Sentir e existir





Sensibilidade é a incandescência dos sentimentos. Não importa a qualidade do que se sente; quando o sentir extrapola nossa capacidade de contenção, vaza por todos os poros. Tornamo-nos, então, pólo irradiador. Um simples gesto, uma palavra, um olhar... qualquer coisa basta para que o sentimento se propague em ondas por todo nosso ser.

De forma concomitante, o nosso sentir funciona com uma espécie de imã. Aquilo que em dado momento nos preenche serve como atrativo ou repelente para os que estão a nossa volta. O mesmo acontece conosco em relação a outras pessoas. Vemo-nos, muitas vezes sem explicação, surpreendentemente bem só por estarmos junto de alguém; outras vezes, a simples presença nos incomoda, nos torna tristes , irritados.

Quantas vezes observamos pessoas reclamando que freqüentemente são vitimas de incompreensão, que ninguém gosta delas, que não tem sorte. O mundo, segundo elas, parece conspirar para que tudo de ruim lhes aconteça.

Então, eu paro e me pergunto: será o mundo? ou serão elas? Que espécie de sentimentos cultuam? Que conversas mantém? O que vaza de seus poros? As abelhas são atraídas pelas flores; hienas pela carniça. Se ando atraindo hienas, não posso culpá-las. Tenho sim que verificar o cheiro que ando espalhando pelos caminhos que trilho. O mundo não me fará absolutamente nada que eu não permitir que ele me faça; ao contrário, ele me responde na mesma proporção que atuo sobre ele. Quando eu me responsabilizar por todos os meus atos, e somente então, terei a paz e felicidade que acho que me são devidas.

Imagem da internet. Desconheço o autor

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Do amor que queremos





Eu te quero, grande amor
Anseio contigo falar e calar
Gargalhar, sorrir, e em teus braços, acolhida, chorar.


Quero discutir minhas idéias,
Dividir indagações e indignações.
Quero saber de você e te dizer de mim.


Quero sentir meu corpo reagindo loucamente ao teu
E depois, serenamente, repousar a cabeça em teu peito
E experimentar a paz.


Ah! como te quero, grande amor
Como anseio por encontrar-te
Como desejo perder-me em tuas vicissitudes.


Ah! imenso e utópico amor
Brinde-me com a tua chegada
Que explodirei na mais pura e intensa felicidade!


Lucia Vianna

Crédito de imagem: Georg Suturin

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Felicidade


Algumas pessoas são imprescindíveis na vida da gente. Mãe, com certeza é uma delas. Claro que ninguém nasce se não tiver uma mãe, mas não é dessa necessidade que eu falo. Falo daquelas mães que dá prazer a gente ter por perto. Daquelas que brincam, brigam, implicam com tudo, mas fazem as comidas que você gosta; dão uma bronca, mas estão sempre disponíveis quando você precisa. Enfim, fala das mães de verdade, mães-pessoas.
Fazem dois anos que não vejo minha mãe. Falo com ela freqüentemente; agora, então, que a danada aprendeu a usar a internet, faço isso todos os dias. Ela é esse tipo de mãe presente, apesar da distância física ser grande. No entanto, por mais que estejamos próximas, a presença física faz muita falta, e não tenho vergonha de dizer que morro de saudades dela. Ou, sendo mais precisa, morrerei de saudades até amanhã, porque amanhã ela estará aqui comigo. E por causa disso, hoje estou feliz, tão feliz como há muito tempo não me sentia.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Sobre limpar armários




Quem já não se viu com um enorme armário para arrumar? Pode ser qualquer tipo de armário: um guarda-roupas, uma estante de livros ou outro qualquer. O fato é que qualquer local que guarde nossas coisas tem que ser por nós arrumado, em um momento ou outro. Podemos, claro, delegar essa função a uma terceira pessoa, mas quase certamente o resultado não ficará exatamente do nosso gosto. Mas voltando ao prosaico ato de arrumar o armário: qual é a melhor forma de faze-lo? Podemos optar por dar uma arrumada geral, sem nos determos muito no que está contido lá dentro. Basta, para isso, colocar as coisas numa aparente ordem e o aspecto geral será bem bonito. Só não dá para garantir que esteja exatamente arrumado e, quase certamente, teremos dificuldade para encontrar coisas “escondidas”; logo, logo, o espaço será pequeno, novamente, isso sem contar que, dependendo do que estiver mais no fundo, corremos o risco de surgimento de mofo, cupins.A outra forma de se limpar um armário é mais trabalhosa: temos que tirar tudo de dentro dele, separar o que presta e o que não presta mais, limpar cada um dos objetos e, só então, tornar a coloca-los dentro, numa nova ordem. Está forma de limpeza é, por vezes, mais dolorida, também, porque ao procedermos a limpeza não raramente nos deparamos com objetos que nos trazem lembranças (boas ou ruins) e, muitas vezes, temos inclusive que nos desfazermos deles.

Assim também acontece com nosso armário interno. Vamos acumulando, ao longo da vida, uma infinidade de experiências e sentimentos. E,da mesma forma que fazemos com os armários de nossa casa, temos que limpar os armários da nossa alma. Já ouvi, vezes sem conta, pessoas dizendo, a respeito de algum sentimento:

- Esquece, vai passar.
Não vai, não passa, só fica enfiado no armário. A única forma de realmente passar é tirando-o para fora, limpando e avaliando se merece ser recolocado ou jogado fora. Pode ser bem mais dolorido fazer este tipo de limpeza, porém é, de longe, bem mais eficaz e digno. Se algo nos causa sofrimento, melhor sofrer de uma vez, encarando de frente e tendo o controle da situação; do contrário, corremos o risco de abrirmos o armário e tudo “despencar” na nossa cabeça. Aí, certamente, a dor é muito maior.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Lembranças




Qual adicto em recuperação, busco superar o vazio da sua falta. Procuro não pensar, não lembrar, não sentir. Mas de repente, quando me encontro descuidada, acontece. As lembranças brotam, jorram, me inundam. Imagens das suas expressões invadem meu pensamento: o sorriso, o parar pensativo, o choro contido, o gozo irrefreável, o olhar carinhoso. Procuro esvaziar-me dos sentimentos que isto traz; mas a dor vem, forte, intensa, avassaladora. Então me calo, me encolho. Já consigo não chorar. Somente respiro, fundo, e tento seguir vivendo.

Crédito de imagem: Natalia Zamkovaia

domingo, 6 de julho de 2008

Contemplação



Olho no espelho. A face que me fita tem algumas particularidades. A pele já não é tão lisa como há anos atrás. Trago ao redor dos olhos algumas graciosas rugas, conseqüências do ato de sorrir. Nestes mesmos olhos, brilhantes, é possível vislumbrar uma profundidade adquirida com os anos; eles espelham uma infinidade de sentimentos. As vezes me pergunto se é mesmo possível entrever tudo isto no meu olhar, ou se somente eu, por saber de minhas interioridades, os identifico.

Meu olhar desliza agora para minha boca. Nela não percebo muitas diferenças. É a mesma que prefere sorrir a ostentar rictos, quaisquer que sejam os motivos que poderiam levar a eles. Ainda a percebo sequiosa por beijos, mas muito mais contida nas palavras. Atualmente ela fala menos, mas o faz com mais precisão.

Observo meu queixo. Voluntarioso... mas isso sempre foi. Hoje, talvez, erga-se menos arrogantemente do que antes; entretanto, mostra a mesma força, empregada mais em situações que a requerem do que em embates juvenis, muitas vezes desnecessários.

Olho no espelho. Gosto do rosto que me fita. Gosto das pequenas marcas, emblemáticas que são de uma vida rica em história. Gosto da mulher por trás do rosto. Gosto de mim.


Crédito de imagem: Maria Pleshkova

sábado, 5 de julho de 2008

Navegando no Rio dos Sonhos

Maria Auxiliadora N. Figueiredo Nery é professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Atuou como colaboradora, juntamente com outros professores do CPAN, acadêmicos e artistas da Cia da Lona e Cia de Teatro Maria Mole em um projeto belíssimo que estava sendo desenvolvido por alguns alunos junto as comunidades ribeirinhas do Rio Paraguai. O projeto, denominado “ Navegando no Rio dos Sonhos”, tinha como objetivo levar novas experiências a estas comunidades (comunidade e escolas), através de apresentações circenses, músicas, dança, teatro, palestras informativas sobre educação ambiental, oficinas de criação de arte, promovendo formas lúdicas de educação. Mais de 700 espectadores assistiram as 27 apresentações, abrangendo 127 famílias ao longo de 290 km do rio.As fotos abaixo mostram um pouco da belíssima paisagem pantaneira e alguns dos momentos das apresentações do alunos.

Projeto Navegando no Rio dos Sonhos

Clique sobre o album para ver as fotos.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Enrodilhada



Hoje me sinto cansada. Não é um cansaço daqueles que se desaparece facilmente, com uma boa noite de sono. Trata-se, na verdade, de um cansaço que está além daquilo que eu possa resolver por mim mesma; brota da alma, dói nos ossos, entorpece meu sentir. Diria que é um cansaço colecionado ao longo de uma vida, que a exemplo de um mosaico, foi sendo assentado pedacinho por pedacinho até formar o desenho final que hoje estampo. Estou em paz, mas paradoxalmente encontro-me destituída de energia.

Mergulhada na inércia, observo-me. Percebo-me constituída por uma infinidade de sentimentos diferentes, muitos dos quais algumas pessoas teimam em dizer excludentes. Sou assim: uma mulher de múltiplas facetas. Existe um lado meu que reflete, outro que chora, outro que brinca com a felicidade e despreocupação de uma criança que pula amarelinha. Nenhum deles é exatamente preponderante; eles se alternam, como aliás tudo na vida. E embalada pela certeza dessa alternância, simplesmente aguardo.

Crédito de imagem: Alex K

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Recônditos de mim



Sentada nas pedras, observo o mar atirar-se contra elas. Das águas saltam borrifos que me atingem o rosto. Seu cheiro impregnante ocupa as minhas entranhas. Acompanho com os olhos sua dança contínua.

Meus pensamentos mergulham na imensidão salgada. Vagam soltos, como pedaços de algas que se desprenderam da colônia. Assim também me sinto. Como alguém que há séculos atrás decidiu abrir mão da segurança limitante e lançou-se na imensidão. O mundo circundante adquire, a medida que me desloco, contornos diferenciados. Sentimentos se sucedem: alegria, medo, curiosidade, paixão, tristeza... tenho a minha disposição um sem fim de possibilidades. E assim flutuo... observo... sinto.

A paz envolve a minha alma.

Crédito de imagem: Nuno Milheiro

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Comemoração na ausência




Hoje te olho dentro de mim. Imagino teus traços. Converso contigo e pergunto das tuas preferências, dos teus sonhos. Ouço uma conversa imaginária onde me contas do teu final de semana: onde foram dançar, você e seus amigos. As conversas que tiveram, as meninas com as quais dançou, os beijos que trocou. Crio dentro de mim um sem fim de possibilidades. Como serias, se estivesse aqui, hoje? Estarias formado? Que profissão terias escolhido? Estarias apaixonado? Para que time torcerias? Que músicas preferirias?

São tantas pequenas coisas que não vivemos e das quais sinto uma saudade infinita. A primeira palavra, o primeiro tombo, a primeira dúvida, o primeiro dia de aula. Todas as férias que não compartilhamos, os livros que não lemos juntos, os filmes que não assistimos. A primeira saída noturna, o primeiro amor, a primeira decepção. Ah, meu filho! Que saudade sinto dos anos que nos foram roubados.
Hoje é seu aniversário. Quero parabenizá-lo por hoje e por todos os anos em que não pude fazê-lo. Quero dizer-lhe, ainda, que o breve tempo que estivemos juntos foi um dos maiores presentes que recebi em toda a minha vida. Obrigada, meu querido. Eu amo você!

domingo, 29 de junho de 2008

Nuances do Amor





Quem não sonha com um amor redondinho? Quem não deseja viver em estado de amor perfeito, acordando e dormindo felicidade? Qual de nós, quando pensa em alguém para compartilhar a vida, não imagina aquela pessoa com a qual vai poder dividir pensamentos, sentimentos?

Parece que procuramos sempre algo muito simples. Basta que seja alguém com quem possamos conversar, dividir a xícara de café , os pontos de vista. Alguém que seja carinho e confiança em tempo integral. Alguém que nos enterneça com um olhar e nos enlouqueça com um toque apaixonado. Simples! Simples? Não!

O amor verdadeiro, aquele que se faz no dia-a-dia, não vive em tamanho estado de perfeição. Talvez por acontecer com pessoas reais, ou até mesmo por isso, ele é cheio de pequenas e grandes dificuldades. O outro, com quem dividimos nosso desejo de amar, é alguém que também tem sonhos, crenças, pontos de vista. É alguém que tem contas para pagar, acorda de mau humor, gosta de assistir futebol quando você quer namorar na varanda.

Seria justo questionar a qualidade ou profundidade deste amor somente porque ele não se encaixa exatamente naquilo que nós julgamos que seja amor? E depois, quanto das nossas inseguranças pessoais tendemos a levar para dentro dos nossos pseudo relacionamentos perfeitos, fazendo com que olhemos a atitude do parceiro a partir da ótica das nossas próprias dificuldades?

Amar é bom, é necessário.. Só não é perfeito. Isso não quer dizer que tenhamos que nos contentar com uma relação de segunda linha. Ao contrário, se soubermos separar dentro de nós o amor verdadeiro da ilusão poética de amar, com certeza conseguiremos vivenciar plenamente este sentimento que tanto buscamos.

O amor é, sem dúvida, maravilhoso. É algo que nos preenche, que resignifica nossa vida. No entanto, muitas vezes, o nosso medo de ser feliz é tão grande que, apesar de passarmos a vida correndo atrás do amor e da felicidade, simplesmente não os vemos quando eles estão na nossa frente. O medo nos cega e continuamos tateando na busca ilusória da perfeição.

Crédito de imagem: Remi Aerts

sábado, 28 de junho de 2008

Poema para Catarina





Catarina, Catarina
onde tu estás, menina?
É tanto desencontro
Que já ando perdendo o ponto.

E preciso costurar
Pois tramas faço para viver
Mas se fico a te procurar
Céus! de fome vou morrer.

Ah, menina danada
Para com esse esconde-esconde
Que minha vida atribulada
Precisa andar - nem te sei onde.

E então, eu a encontro
Brincando toda feliz
Pulando amarelinha
Bem debaixo do meu nariz.

E quando olho seus olhos
Brilhando de felicidade
A vida assume os contornos
Que ela tem de verdade.

Lucia Vianna

Crédito de imagem: Arturo Mejia Dominguez

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Sem condutor



Meu peito é habitado por uma imensidão de sentimentos. São tantos, e tão intensos, que as vezes, confesso, não sei o que fazer com eles. Em determinados dias, como hoje, me vejo refém da minha própria limitação. Busco palavras para traduzi-los; não as acho. Então permanece a incomoda sensação de algo que deseja, que precisa sair aqui de dentro, mas que não encontra veículo para ser conduzido para fora. E me debato; vasculho meu dicionário emocional. Nada!!! Tenho as definições, mas não sei onde estão as palavras que as antecedem.

E sinto. E sofro por não conseguir alforriar-me de meus sentimentos.

Crédito de imagem: Ilya Shubin

Sobre voar





Olho pela janela. O céu tem uma cor pálida; o sol, encoberto, é somente pressentido. Venta muito. Faz frio. Fico parada olhando um incauto passarinho que, a despeito da pouca receptividade do espaço circundante, teima em descrever círculos mais e mais abrangentes.

Fixo o olhar na dança solitária, nas asas que executam um balé sincronizado. Esqueço o tempo; meus olhos param e ficam presos no vai e vem constante, nos mergulhos feitos no vazio, no movimento cadenciado que o leva novamente para cima.

Sobe desce sobe desce.

Para onde vai? Por que vai? Imagino que careça de destino certo. Que simplesmente bata as asas e se deixe levar. Planando. Sobrevoando destinos. Executando o que lhe cabe , sem questionar. Exercitando sua condição de pássaro, de quem não se espera nada além da aceitação do espaço circundante. Do frio. Do vento que venta demais. Do sol encoberto e apenas pressentido. Do céu de cor pálida. Da vida vista através da janela.

Crédito de imagem: Nikola Petrovski

terça-feira, 24 de junho de 2008

Decepção


É um dedinho torto
no meio do tudo certo.
É o menino bobo
querendo ser muito esperto.

É um pinguinho roxo
no meio do mar azul.
É o vento que venta norte
Quando devia ventar sul.

É a mancha amarela
No vestido branco de festa.
É a espinha fora de hora
encravada no meio da testa.

É um monte de João
quando devia ser José
É a vida querendo ser perfeita
quando na verdade não é.

Lucia Vianna

Crédito de imagem: Makarov Igor


domingo, 22 de junho de 2008

Gotas de felicidade


Eu tive, como toda pessoa normal costuma ter, dois avôs; no meu caso, digo que tive aquele do tatu e aquele do poço ( lembram disso?). O meu avô “do poço” foi uma pessoa que, sem dúvida, teve um papel dos mais determinantes na minha infância, na minha vida. Tenho lembranças maravilhosas com ele, desde que me entendo por gente. A primeira delas é sobre uma caixinha. Isso mesmo, uma caixinha.

Meus avós moravam um tanto afastados dos meus pais e meu avô costumava percorrer o caminho de uma casa a outra de bicicleta. Para poder me transportar, já que eu não passava de um espirro de gente, ele construiu uma caixinha de madeira, a qual prendia na parte dianteira da bicicleta, e lá íamos nós. Ele ia assobiando músicas espanholas, as vezes as cantarolava, e eu, minúsculo pedaço de gente, ia batendo palmas e seguindo seu ritmo.

Depois eles se mudaram para São Paulo e eu passei a visitá-los de tempos em tempos. Na casa deles vivi dias maravilhosos, pois ela oferecia tudo o que uma menina sequiosa de aventuras poderia desejar. Foi lá que cai no poço, mas foi lá também que me descobri uma princesa, tendo por castelo uma imensa ameixeira e por carruagem um magnífico pé de goiaba.

Acho que foi lá, também, que foram plantadas em mim duas sementinhas que brotaram e fazem de mim a pessoa que sou hoje : a semente da leitura e a do fascínio pela História. Durante algum tempo meu avô foi sapateiro, e sua sapataria ficava num cômodo na parte da frente de sua casa. Eu passava horas a fio naquele local, junto com ele. Costumava me sentar no chão e ele me dava para “ler” um exemplar de Seleções. Eu começava, então, a inventar minhas histórias, e ele ia participando delas e as direcionando. Foi assim que fiquei conhecendo um homem mau chamado Hitler; foi lá, também, que tomei conhecimento das grandes guerras e da Revolução de 1932. Foi com ele que aprendi a pensar sobre os porquês de comportamentos humanos que mudaram todo o curso de vida de milhões de pessoas. E isso tudo feito assim, “lendo” Seleções.

Ah! O meu avô do poço era um homem de pouco estudo, mas de muita cultura. A medida que eu crescia ele lia comigo os gibis, assistia meu programa predileto: Pim pam pum; depois passamos a ler juntos os jornais. Quando entrei na faculdade ele quase enlouqueceu: era final da ditadura e ele usava de todo seu empenho para calar a neta que ele ensinara a pensar. Sobrevivemos a ditadura, ele e eu.
Ainda hoje, quando penso nele, vejo-me imersa num sentimento de bem estar. Não sei onde ele está, no momento. Se no céu, deve estar rodeado de anjinhos, instigando-os a questionarem as leis que regem o Paraíso. Pensar nisto me dá uma enorme vontade de sorrir, enche o meu peito de uma felicidade transbordante e me dá a certeza de que ele não deve se arrepender de nenhuma das histórias que me ensinou.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Sobre orfandade




Lembranças povoam meu peito. Algumas boas, outras ruins. Algumas tristes, mas a maioria delas muito, muito engraçadas. Meu pai era uma pessoa dotada de um profundo senso de humor.A maior parte das lembranças que guardo estão envoltas em risos, gargalhadas. Não que não fosse sério; era-o até demais. Hoje percebo, no entanto, que o bom humor parece ter sido sua opção de vida.

Recordo-me de tantas passagens, de tantos ensinamentos. Concordo inteiramente com o que se diz sobre ensinar com as próprias atitudes e não com palavras. Ele era um homem profundamente bom. Não me lembro de ter presenciado alguma atitude maldosa de sua parte. Não era alienado; tinha senso crítico e por vezes externalizava opiniões que não eram do agrado geral. No entanto, não o fazia com maldade, nunca com o intuito de ferir alguém. Aprendemos desde sempre que podemos manter nossos pontos de vista sem ridicularizar ou diminuir aqueles que pensam diferente de nós.

Era uma pessoa integra, honesta, batalhadora. Tentou, a sua maneira, nos deixar o que tinha de melhor. Apesar de ter sido criado numa situação extremamente desfavorável, livros sempre foram prioridade na minha casa. Nós os tivemos desde muito antes de aprender a ler. Sempre fomos estimuladas a aprender, a estudar, a dar o melhor de nós em qualquer situação.

Não que não tivesse defeitos; ele os tinha, e muitos. As vezes suas atitudes nos colocavam em lados opostos do campo de batalha. Cansei de brigar com ele, de questioná-lo. Sei que fui dura, que o magoei, assim como ele também fez o mesmo comigo. Entretanto, posso afirmar que as batalhas travadas não deixaram marcas tão profundas quanto os dias de festa.

O exemplo de vida mais significativo que tive dele deu-se exatamente quando ele não estava presente. Ou estava, mas de forma passiva, por assim dizer. Durante as horas que antecederam nossa despedida final, dezenas de pessoas se aproximaram de mim e me contaram de coisas que ele havia feito por elas, coisas das quais eu nem suspeitava. Fiquei impressionada ao ver o quanto ele foi capaz de auxiliar, anos a fio, uma infinidade de pessoas, das mais diversas formas que se possa imaginar. E nunca falou absolutamente nada sobre isso.

Hoje senti uma saudade imensa. Tive necessidade de tirar a colcha de retalhos de dentro do armário. Envolvi-me nela, a exemplo do que ele fazia quando eu era pequena. Lembrança mágica essa: ele chegava, eu já deitada, naquele frio horroroso; ele se aproximava da cama e fazia uma espécie de casulo com as cobertas. Cobria minha orelha e dizia que estava “fazendo quentinho”. Terna lembrança de um carinho que esquentava a alma.

Olhei cuidadosamente cada pedaço de retalho que formou a colcha da vida que hoje me envolve. Preciso coloca-la novamente no armário. Antes de fazê-lo, dou uma ultima olhada.
Nunca me senti tão órfã quanto hoje!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Não saber


Solta no vácuo, vivo a angústia do não te saber.
Não sei o que pensas,
Não sei o que sentes,
Não te sei.


Não sei se te sinto,
Ou apenas pressinto.
Então me calo,
E amordaço em meu peito tanto querer.


Lucia Vianna

Crédito de imagem: Sergey Kovalinskij

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Abandonando moinhos




Uma briga feroz se desenrola dentro de mim.

Seria simplista demais dizer que o racional se digladia com o emocional. É muito mais do que isso. Existem momentos em que percebemos a necessidade de nos reorganizarmos, de abandonarmos velhos caminhos, velhos hábitos. Percebemos que as estradas que trilhamos estão se tornando becos sem saída.

A exemplo do que se faz num jardim, é chegado o momento da poda. Impossível não se angustiar frente a esta constatação. Apesar de necessário, podar implica em que se escolha o que vai ser deixado para trás. Implica, ainda, em se saber que durante algum tempo seremos obrigados a conviver com a falta dos ramos que foram subtraídos.

É necessário preparar-se para o encolhimento, para o retraimento. No entanto, não há outra alternativa, quando se percebe que a quantidade de seiva disponível não mais atende as necessidades primordiais. Há que se podar para sobreviver, para vicejar.

Como Dom Quixote, pareço travar uma luta incessante contra moinhos de vento. Estou cansada. É chegada a hora de aposentar Rocinante, de dar referências a Sancho Pança para que ele encontre outras atribuições.

É hora de seguir sozinha. De assimilar as amputações. De assumir as decisões. E aguardar as florações.


Tela de Pablo Picasso

sábado, 7 de junho de 2008

Circunspeção





Envolta em mim mesma, exploro silenciosa os recônditos do meu ser.
Observo-me , numa quietude quase reverente.
Levanto questões, busco respostas, alternativas.

Finalmente, desprendo-me das velhas roupagens,
E num processo libertador,
Lanço-me!

Agora é voar.
Romper completamente todas as amarras
E, definitivamente,
Ser Feliz!!!

Crédito de imagem: Petrosl

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Olhar-se no espelho

Quando estava na universidade eu tinha um colega que adorava lutar por uma boa causa.Bastava saber que havia baleias sendo dizimadas ou qualquer outra injustiça sendo cometida em algum canto do planeta e lá ia ele comandar uma passeata.No entanto, não conseguíamos fazer com que ele se interessasse por nossas reivindicações , pois ele as considerava coisas menores ou, como costumava dizer, “ coisas do quintal de casa”.

Assim como ele, me deparo muitas vezes com pessoas que só lançam seus olhares sobre aquilo que parece estar longe delas. São pessoas que choram e se emocionam profundamente quando vêem o resultado das guerras, quando vêem injustiças sendo cometidas contra os animais, por exemplo.

Sou a favor de que se cuide de todos os animais, incluindo as baleias. Mas me pergunto, constantemente: o que existe no quintal da minha casa para ser preservado?

Como ando tratando minhas plantas, meus animais, minha família, meus amigos e aqueles que não o são? Certamente que trato bem tudo e todos que amo. Mas como trato aqueles a quem não amo?

Não se trata , em absoluto, de fazer apologia ao “ Ame seu irmão”.

Quando penso sobre isto, penso naquelas pequenas atitudes que parecem inócuas, mas que magoam e prejudicam aqueles a quem são dirigidas.

Por que somos capazes de defender as baleias e não somos capazes de perceber que nossos comentários, baseados numa visão simplista e deformada, podem ser tão igualmente destrutivos? Por que percebemos maldade em quem destrói um cardume, mas não a percebemos quando atacamos com palavras um único indivíduo?

Senso crítico é essencial ao desenvolvimento humano. Mas o verdadeiro senso crítico discute idéias, e não, arrogantemente, pessoas. Tenho todo o direito de discordar das posturas de quem quer que seja, porém não tenho o direito de expô-las.

Se não concordo, afasto-me. Acho que aí reside a diferença entre senso crítico e maldade crônica.

A opção é minha.

Ou, se não quero optar, sempre posso ir salvar baleias.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Escada




Ei-la forte,ereta,parecia desafiá-la. A velha deu um suspiro. Sabia que tinha que enfrentá-la novamente. A velha necessitava fazer o almoço, seu velho contava com ela(pobrezinho, tão fraquinho) e outro suspiro.

Deu um passo. Agarrou com toda a força o corrimão,e apoiou-se na parede,resolveu descer de lado. Desceu um pé, este parecia afundar sem chegar a lugar nenhum , mas enfim chegou. Com dificuldade ela levou o outro pé nas direção do primeiro, nada aconteceu, ela se sentiu confiante .

Repetiu a operação dezenas de vezes. Estava exausta mas, oh! Ainda faltavam mais dezenas de degraus! Lembrou-se do neto que vinha sempre correndo e pulando nessa assombração,talvez fosse para amedrontá-la.

Desceu mais dois degraus lembrou-se que ela deu a idéia do segundo andar; ela era culpada de sua própria desgraça,por colocarem aquilo em seu caminho! Um aperto de raiva e dor afligiu- lhe o coração,mas para espantar maus pensamentos pensou: ”podiam ter posto uma rampa”, mas logo retirou o que disse. E se ela caísse de uma rampa, sairia rolando o que seria vergonhoso e doloroso.

Suas costas estavam latejando, o suor escorria de seu rosto, estava a ponto de desistir quando por Deus o suplício acabou! Ela respirou aliviada. Pegou seu lenço e...Onde ele estava? Quase desmaiando a velha percebeu que na pressa de descer esquecera seu lenço na prateleira. E assim o suplício teve que recomeçar...


O texto acima é de autoria de Alice Maria de Figueiredo Souza.

Ela tem 12 anos e o escreveu por ocasião da doença de seu avô, que mesmo movendo-se com dificuldade e dor, nunca deixou de andar.

Crédito de imagem: Olev Andreev

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Festa no parque




A vida é um grande parque de diversões, e a escolha dos brinquedos em que queremos andar é que determina as experiências que teremos ao longo dela.

Andar de carrossel é seguro. Mas também tão tedioso!! Vira-se e vira-se, sempre no mesmo lugar.

Roda gigante já é pouco mais atrevido. Supõe altos e baixos. Ainda assim, se pensarmos bem, é uma forma meio confortável de se passar pela vida.Subimos e descemos quase que de forma passiva, bem seguros na nossa cadeira.

Tem também a montanha russa. Ah! Essa é sensacional!! Serve bem para aquelas situações em que nem bem entramos e já nos perguntamos onde diabos estávamos com a cabeça. Subimos, descemos, nos assustamos. O coração vem na garganta, quase morremos de medo e, nem bem saímos dela, já estamos considerando andar outra vez.

E o que dizer do Túnel do Amor? A rigor deveria ser uma chatice. Mas como nunca embarcamos sozinhos no carrinho, o passeio todo se torna um verdadeiro acontecimento.

Trem Fantasma. Assustador? Nem sempre. Depende muito de estarmos ou não esperando pelo “monstro”. Sem dúvida a escuridão estimula a que nos assustemos mais em algumas passagens, principalmente quando não vemos de imediato a saída. É o tipo de brinquedo em que raramente queremos entrar, mas em que todo mundo já andou um dia.

Faço hoje quarenta e nove anos. O meu parque de diversões está em festa.

Já passei por todos os brinquedos vezes sem conta. Em alguns deles diverti-me a valer; em outros, questionei seriamente minha própria sanidade. Em todas as vezes, no entanto, mergulhei profundamente no momento que estava vivendo.

Hoje é dia de comprar novos ingressos.

Vou percorrer todas as bilheterias e preparar-me para brincar intensamente.

Vou viver... e ser feliz!!!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Pérolas do João

O João, que não é o meu neto, mas o filho do meu sobrinho, vai fazer três anos.

- Filho, o que você quer ganhar de presente de aniversário?

- Uma roupa de princesa.

Silêncio pensativo.

- Isso é coisa de mulherzinha, filho.

Longa pausa.

- Mas viu, filho.. o que você quer ganhar mesmo de presente de aniversário?

- Uma roupa de princesa, pai.

- Ah, é? Então tá. Vou jogar fora todas as suas roupas do Mac Queen.

- Mas compra antes a roupa de princesa que eu não quero ficar pelado.

terça-feira, 27 de maio de 2008

EmpoÇada




É interessante como um mesmo acontecimento pode, em fases distintas da vida, ser visto sob diferentes perspectivas.

Eu tinha dois anos de idade quando junto com um primo “pulava carnaval” sobre um velho poço desativado. A tampa de madeira, desgastada pela idade, cedeu, e eu mergulhei, sem aviso ou salva-vidas, num buraco de doze metros, com seis metros de água.

Minha avó, por um daqueles caprichos divinos, olhou pela janela no exato momento em que eu afundava. Pode, assim, impedir meu primo de se jogar atrás de mim ( se eu fui, ele também tinha que ir, não é ? ) e alertar meu avô para que pedisse ajuda.

Enquanto meu avô rodava o bairro em busca de auxílio , a vizinhança toda reuniu-se em torno do poço, onde minha mãe tentava, ao mesmo tempo, manter a calma e orientar-me para evitar que eu afundasse de vez.

Muitas lágrimas e promessas depois chegou meu avô com um poceiro, e eu fui retirada de lá, ilesa.

No dia seguinte eu, acompanhada de um séqüito de familiares e vizinhas , fui conduzida a Igreja da Penha, para pagar as inúmeras promessas que tinham sido feitas. Ao me ver ajoelhada rezando em frente ao altar ( pasmem: eu rezava com essa idade), com um sem número de pessoas chorando a minha volta, o padre da paróquia veio saber do que se tratava.

Virei celebridade! Naquele tempo ainda não havia televisão, de forma que o “meu “ milagre só foi noticiado nas rádios de São Paulo.

Durante anos da minha vida fui “aquela que caiu no poço”.

Esta história era, para mim, como aquelas que lia em La Fontaine, Monteiro Lobato e tantos outros autores que povoaram minha infância.

Anos depois, por razões que nem eu mesma sei explicar, tornou-se um fardo.

Lutei contra a sensação meio aterrorizante de submergir em momentos inesperados durante boa parte da minha vida. Gastei horas e uma pequena fortuna em análise para ver-me livre dela.

Dias atrás, conversando com um amigo, contei a história e ele ,mais do que prontamente, colocou:

- Você foi empoÇada!!!!!

Rimos demais.

Então me dei conta de que, em algum momento, eu saira nadando. Deixara para trás o poço escuro e, mais do que isso, tornara-me de fato uma sobrevivente.

Hoje sei, mais do que nunca, a força que tenho.

Fui, como disse meu amigo, empoÇada pela vida.

Causos da minha infância II




Meu avô sempre dizia que para lidar com roça é preciso prestar atenção em muita coisa. Não é só chuva ou praga. As vezes tem olho gordo, as vezes tem bicho maldito. Bicho maldito, segundo ele, é igual a tatu. Tatu é coisa do diabo. Quando começava a rondar a roça, secava toda a plantação. A única solução era matar o bicho, mas difícil mesmo era pegar. Tinha que ser de noite, quando o bicho saia, e tinha que ter no mínimo quatro homens de coragem, porque fazer o cerco é que era complicado. Se deixasse o bicho entrar no buraco não pegava mais. O buraco chegava até no inferno.

Uma vez apareceu um tatu lá na roça do compadre Antonio. A roça começou a praguejar e secar. Como as roças faziam divisa, acharam melhor que fossem todos juntos matar o bicho, senão ia queimar a plantação de todo mundo.

Uma noite combinaram e foram, todos com lampião, facão e terço. Sentaram no meio da roça para esperar, e quietos para o bicho não perceber. De repente, começaram a ouvir o tal. Foram levantando bem devagar, escutando para ver para que lado o maldito estava andando.

Eis que surge o tatu. Era ENORME !!!

Quando o viram, saíram na maior correria atrás dele. Era o bicho correndo na frente e eles correndo atrás. Ele, então, deu um pulo e entrou num buraco que tinha no barranco. Todo mundo parou, desconsolado. Até que um dos compadres, dizendo que aquilo não podia ficar daquele jeito, resolveu que eles tinham que ir cavando até achar o tatu... nem que chegassem na beira do caldeirão.

Começaram a cavar com as mãos mesmo. Das unhas ia saindo sangue, mas o importante era salvar a roça de todo mundo. Foram cavando, cavando, até que chegou no fim do buraco. Nada! o tatu tinha sumido.Ficaram um olhando para a cara do outro, abobalhados. Se puseram então a caminho de casa, rezando desconsolados.

De repente, quem cruza sossegado o caminho ? O tatu!!!

Quando o bicho passou andando, eles saíram desembestados atrás dele. Só que o tatu foi em outra direção, não mais para o buraco anterior. Estavam todos correndo atrás quando um deles, vendo um outro buraco no barranco,gritou:

- Ele vai para o buraco de novo.

Meu avô não teve dúvidas. Deu um pulo enorme. Se atirou no ar em direção do tatu e grudou-o pelo rabo, quando já estava entrando no buraco. Grudou sem largar. O tatu, sem poder fugir, virou para trás e olhando-os com os olhos mais feios que se possa imaginar, virou para eles e disse:


- Vamos parar com essa brincadeira aí atrás????


sábado, 24 de maio de 2008

Pronto, vó!!!


Minha irmã, depois que desistiu de plantar roupinhas, tornou-se uma mulher incrível e uma avó de primeira classe.

Um dia desses, depois de ter trabalhado até as quatro da manhã, estava ela ( ou o que sobrou dela) em plena atividade “avoristica”, pelejando, as sete da madrugada, com um neto de três anos ligado no 220.

Exausta, mas ainda tentando bravamente dar conta da situação, sugeriu a ele que assistisse televisão. Procurou o canal favorito e, colocando um colchão no chão ao lado dele, disse:

- Fica quietinho aqui. A vovó fica com você, enquanto assiste, e aproveita para dormir um pouquinho, ta?

Como não houve reclamação, ela deitou-se, e deixando ligado o radar que se usa quando se está dormindo, cochilou.

Não demorou nada e ela ouviu:

- Vó, quero bolacha!

Estoicamente ela se dirigiu a cozinha e fez vários e vários sanduichinhos de bolacha, do jeito que ele tanto gosta. Voltou, colocou o prato em frente a ele e deitou-se novamente, pensando: Descanso, enfim!

Mal tinha passado para o sono e a voz novamente a interrompe:

- Pronto, vó!

E ela:

- Come, filho!


Silêncio. E novamente a voz:

- Não quero, vó!

Passado algum tempo ela ouve novamente:

- Pronto, vó!

E ela insiste:

- Come, filho!!
Passado algum tempo nesse jogo ela abre os olhos e se dá conta que ele não está mais ali.

Seguindo a voz que continua a repetir, sem cessar, o tal do pronto, ela chega ao banheiro, e gargalhando, fita uma criança com carinha desconsolada que olha para ela e diz:

- Não gosto de comer cocô, vó Laura!



sexta-feira, 23 de maio de 2008

Partículas elementares





Uma palavra desencadeante,
Um toque instigante,
Um beijo,
Um olhar.


O corpo que se curva
E busca, tateante,
O calor,
O gosto,
O perder-se em.


Alucinada sensação
Que me ocupa por inteiro,
Que me faz tremer,
Gemer, arfar.


E que após lançar-me numa espiral, desgovernada,
Traz-me de volta,
Plena.
Saciada.
Mulher!


Postado por : Lucia Vianna

Crédito de imagem: Georg Suturin

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Amigos




Amigos são pedaços de nós mesmos que reencontramos ao longo da vida.

A cada esquina dobrada, a cada palavra trocada, eles se tornam presentes e vão gradativamente aumentando o espaço que ocupam dentro de nós.

Amigos são qualidade, não quantidade.

É melhor tê-los em número reduzido, mas plenos de carinho, compreensão e amor, do que precisar de três agendas para anotar um número vazio de nomes sem significados.

Amigos surgem não se sabe bem de onde.

Temos aqueles que estiveram conosco a vida toda, aqueles que acabamos de conhecer e , ainda, aqueles que nem sequer conhecemos pessoalmente, ou nem sabemos que rosto tem, mas sabemos da sua importância pela constância, pelo humor, pelo apoio.

Não é amigo aquele que não te faz rir, que não se sente a vontade para rir de você, que não tem paciência para ouvir suas mazelas. Aquele que não sabe dividir o silêncio, dançar a mesma música , rir das mesmas piadas, dividir o café , o chocolate ou as opiniões.

Não importa a grife. Podem ser Doras, Patis, Therezas ou outro modelo qualquer.

São igualmente belos e únicos. Valiosos e inigualáveis.

Insubstituíveis.

Lindos.

Amigos!!


Crédito de imagem: Basil G.


Alguém me disse, ao ler o texto, que o tema já havia sido tão explorado que tinha se tornado lugar comum. Concordo totalmente. Muito já se falou sobre amizade e amigos. No entanto, eu nada disse sobre os meus amigos, ou sobre minha forma de vivenciar a amizade. O meu texto se propõe somente a isso: dizer de mim e daqueles que fazem a diferença na minha vida.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Pequena verdade




Amar é verbo intransitivo.

Não permite preposição,

Imposição,

Traição,

Ou falta de atenção.


Lucia Vianna
Crédito de imagem: Alexandr Zakoldaev

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Mudanças do tempo

Nada nos dá mais perspectiva de nós mesmos do que uma tempestade.

Num primeiro momento olhamos estarrecidos as nuvens negras que nos engolem, que não nos deixam respirar. Tudo ao nosso redor se mostra ameaçador, desafiador e contribui para nos deixar impotentes.

Os ventos que sopram furiosos fazem-nos sentir tal qual marionetes sendo jogados de um lado para outro, sem vontade própria, à mercê de uma força invisível que suplanta qualquer capacidade de raciocínio.

É impossível pensar coerentemente durante uma tempestade.

Só é possível sentir, desejar que tudo passe e que a normalidade volte a habitar os espaços circundantes. Enquanto isso não acontece, o olhar atordoado segue o vento implacável que tudo devasta, as raízes expostas do que já foi um dia uma árvore majestosa.

E então, assim como chegou, a tempestade se vai.

De repente você olha e ela não está mais lá. Estupefato se dá conta de que tão rapidamente quanto chegou ela se foi, e que as raízes expostas já buscam um novo lugar, na terra revolta, para se fixar.

Característica fascinante tem o tempo. Se do céu cai apenas uma chuvinha fina, esta coisa boba e sem graça é capaz de ficar encharcando vagarosamente a terra por um tempo sem fim, transformando a terra fértil num lamaçal improdutivo. Já uma insandecida tempestade vem , toma tudo de roldão e, com a mesma intensidade com que se instalou, desaparece.

E a vida segue...

E nos vemos prontos a chover e a brotar novamente.

Causos da minha infância

Meu avô paterno era cheio de causos para contar.

Criado num sítio do interior de São Paulo, realidade e fantasia conviveram de forma harmônica, no seu cotidiano, durante toda sua infância e adolescência.

Quem certamente saiu ganhando com isso fomos nós, seus netos. Ele constantemente nos reunia a sua volta para contar passagens que, jurava, eram verdadeiras, e que a nós soavam ora incríveis, ora assustadoras.

Lembro-me perfeitamente de uma ocasião em que estávamos sentados em volta da mesa, saboreando a melhor sopa de legumes que uma avó é capaz de fazer, quando meu primo falou algo sobre lobisomem. Imediatamente começamos a rir e a dizer que lobisomem não existia.

Meu avô, sem titubear, disse-nos que existia sim, que ele mesmo já tinha visto. E acrescentou que lá para as bandas do sítio deles era muito comum que o dito cujo aparecesse.

Nós o olhamos com uma certa incredulidade respeitosa e ele, ao nos ver na incerteza, começou a contar de uma determinada noite em que estavam ele e os irmãos, sozinhos em casa. Meu bisavô tinha ido a cidade e só retornaria no dia seguinte.

Ele e os irmãos, já deitados, começaram a conversar e comentar sobre a aparição do lobisomem numa propriedade vizinha. Como uma história puxa outra, lá pelas tantas eles estavam apavorados, mas devidamente bem informados sobre todas as aparições recentes e não tão recentes do constante visitante.

Foi então que começaram a ouvir, ao longe, um barulho de correntes sendo arrastadas. O barulho foi se tornando mais forte ( e ameaçador) a medida em que se aproximava da casa.
Eles escutavam, aterrados, os gemidos entremeados de arquejos , cada vez mais próximos.
Ninguém sabia exatamente o que fazer. Correr? Esconder-se? Sumir?

Foi então que mais corajoso dos irmãos de meu avô aproximou-se vagarosamente da porta e, num ímpeto de coragem, gritou:

- Quer um prato de sal?

E uma voz respondeu de pronto, vinda do lado de fora:

- Que prato de sal o quê, fdp. Me ajuda aqui que a égua escapou!!

Caímos na risada.

Meu avô, sem perder a compostura, afirmou que daquela vez não era o lobisomem, mas que todas as outras histórias eram absolutamente verdadeiras.

Invenções ou não, o fato é que histórias assim tornaram mágica minha infância e eu as coleciono como verdadeiros tesouros que são.

sábado, 10 de maio de 2008

Quebra-torto com letras

Presente desde a primeira edição do FAS, o quebra-torto com letras é uma oportunidade incrível de se ter contato com o que está acontecendo, em termos de Literatura, na América Latina.

De maneira bastante informal, saboreando um deliciosos café da manhã pantaneiro, os escritores tiveram oportunidade de lançar e discutir suas obras junto a seus pares e ao público em geral.

A inovação do quebra-torto, este ano, ficou por conta das oficinas de teatro e contação de estórias.

Com a presença maciça de adultos e crianças, as oficinas criaram um espaço onde todos puderam vivenciar a magia dos livros, estimulando a leitura como forma de lazer cotidiana.

Veja no álbum de fotos, ao lado, momentos que mostram o envolvimento dos participantes.

FAS - Uma experiência multissensorial







A sensação de quem participou do Festival da América Latina – FAS foi, sem dúvida, de ter sido envolto nas mais diversas formas de expressões culturais.

A diversidade de opções, bem como a acessibilidade a cada uma delas, constituiu um diferencial que propiciou uma maciça participação de pessoas de todas as faixas etárias e grupos sociais.

Há muito o que se falar e mostrar sobre as diversas atividades. Procurarei fazê-lo de forma gradual, para que não se torne muito cansativo e possa assim ser melhor assimilado.

A preocupação inicial de apresentar todas as atividades muito rapidamente foi gradativamente sendo substituída pela certeza de que, pelo significado que tem, o FAS
pode e deve ser mostrado ao longo de um tempo, tempo que tenho certeza será sempre menor do que o resultado gerado em todos os participantes.


Portanto, venham comigo ... e bom Festival!!!