terça-feira, 27 de maio de 2008

Causos da minha infância II




Meu avô sempre dizia que para lidar com roça é preciso prestar atenção em muita coisa. Não é só chuva ou praga. As vezes tem olho gordo, as vezes tem bicho maldito. Bicho maldito, segundo ele, é igual a tatu. Tatu é coisa do diabo. Quando começava a rondar a roça, secava toda a plantação. A única solução era matar o bicho, mas difícil mesmo era pegar. Tinha que ser de noite, quando o bicho saia, e tinha que ter no mínimo quatro homens de coragem, porque fazer o cerco é que era complicado. Se deixasse o bicho entrar no buraco não pegava mais. O buraco chegava até no inferno.

Uma vez apareceu um tatu lá na roça do compadre Antonio. A roça começou a praguejar e secar. Como as roças faziam divisa, acharam melhor que fossem todos juntos matar o bicho, senão ia queimar a plantação de todo mundo.

Uma noite combinaram e foram, todos com lampião, facão e terço. Sentaram no meio da roça para esperar, e quietos para o bicho não perceber. De repente, começaram a ouvir o tal. Foram levantando bem devagar, escutando para ver para que lado o maldito estava andando.

Eis que surge o tatu. Era ENORME !!!

Quando o viram, saíram na maior correria atrás dele. Era o bicho correndo na frente e eles correndo atrás. Ele, então, deu um pulo e entrou num buraco que tinha no barranco. Todo mundo parou, desconsolado. Até que um dos compadres, dizendo que aquilo não podia ficar daquele jeito, resolveu que eles tinham que ir cavando até achar o tatu... nem que chegassem na beira do caldeirão.

Começaram a cavar com as mãos mesmo. Das unhas ia saindo sangue, mas o importante era salvar a roça de todo mundo. Foram cavando, cavando, até que chegou no fim do buraco. Nada! o tatu tinha sumido.Ficaram um olhando para a cara do outro, abobalhados. Se puseram então a caminho de casa, rezando desconsolados.

De repente, quem cruza sossegado o caminho ? O tatu!!!

Quando o bicho passou andando, eles saíram desembestados atrás dele. Só que o tatu foi em outra direção, não mais para o buraco anterior. Estavam todos correndo atrás quando um deles, vendo um outro buraco no barranco,gritou:

- Ele vai para o buraco de novo.

Meu avô não teve dúvidas. Deu um pulo enorme. Se atirou no ar em direção do tatu e grudou-o pelo rabo, quando já estava entrando no buraco. Grudou sem largar. O tatu, sem poder fugir, virou para trás e olhando-os com os olhos mais feios que se possa imaginar, virou para eles e disse:


- Vamos parar com essa brincadeira aí atrás????


8 comentários:

Anônimo disse...

Seu vô é mineiro?

Essa estoria lembra muito as da minha mãe "mineirona" sô. kkkkk


beijo

adorei

Etel

Lucia disse...

Etel:

Meu avô não era mineiro,não, uai..rs
Acho q só era meio criativo demais..rs
Beijos

Anônimo disse...

Engraçadíssimo o texto. Adorei. Rsrsrs. Thereza.

Lucia disse...

Thereza:

Ultimamente tenho recordado passagens engraçadissimas da minha infância. Depois que comecei a escrever elas começaram a vir e, agora, minha irmã se encantou tanto pelas lembranças q tb estão sendo despertadas nela q anda me abastecendo com um sem número de causos de q eu não me lembrava.
Do jeito q a coisa vai, vou colocar a vida do meu santo avô aqui no blog..rs
Beijos, querida

Professor Sérgio Aulas OnLIne disse...

Será que alguem vai ficar em duvida sobre quem era a neta preferida deste avô, ou quem era o avô preferido desta neta?

Eu to achando é que foi o avô que desceu no poço pra salvar a Lucinha, vai dar tempo de sair correndo atras de poceiro pra tirar uma criança de dois anos que caiu num poço, chei d'agua?

Lucia que sorte tem o João...

Beijos querida.

Lucia disse...

Sergio:

Lindo seu comentário. Muito delicado e sensivel.
A Cecilia também terá muito sorte por ter um avô como você.
Beijos

O Sibarita disse...

Eita dona moça retada! kkkk
Voltamos ao tempo da infância, é regressão fia? kkkkk

Pô Lúcia isso é tão legal lerbrarmos dos velhos tempos.

Que avô retado!

bjs
O Sibarita

Lucia disse...

Sibarita:
Sabe como é? Chega numa idade q o melhor q a gente faz é partir prá regressão..rs
Beijos, moço