sexta-feira, 30 de maio de 2008

Escada




Ei-la forte,ereta,parecia desafiá-la. A velha deu um suspiro. Sabia que tinha que enfrentá-la novamente. A velha necessitava fazer o almoço, seu velho contava com ela(pobrezinho, tão fraquinho) e outro suspiro.

Deu um passo. Agarrou com toda a força o corrimão,e apoiou-se na parede,resolveu descer de lado. Desceu um pé, este parecia afundar sem chegar a lugar nenhum , mas enfim chegou. Com dificuldade ela levou o outro pé nas direção do primeiro, nada aconteceu, ela se sentiu confiante .

Repetiu a operação dezenas de vezes. Estava exausta mas, oh! Ainda faltavam mais dezenas de degraus! Lembrou-se do neto que vinha sempre correndo e pulando nessa assombração,talvez fosse para amedrontá-la.

Desceu mais dois degraus lembrou-se que ela deu a idéia do segundo andar; ela era culpada de sua própria desgraça,por colocarem aquilo em seu caminho! Um aperto de raiva e dor afligiu- lhe o coração,mas para espantar maus pensamentos pensou: ”podiam ter posto uma rampa”, mas logo retirou o que disse. E se ela caísse de uma rampa, sairia rolando o que seria vergonhoso e doloroso.

Suas costas estavam latejando, o suor escorria de seu rosto, estava a ponto de desistir quando por Deus o suplício acabou! Ela respirou aliviada. Pegou seu lenço e...Onde ele estava? Quase desmaiando a velha percebeu que na pressa de descer esquecera seu lenço na prateleira. E assim o suplício teve que recomeçar...


O texto acima é de autoria de Alice Maria de Figueiredo Souza.

Ela tem 12 anos e o escreveu por ocasião da doença de seu avô, que mesmo movendo-se com dificuldade e dor, nunca deixou de andar.

Crédito de imagem: Olev Andreev

16 comentários:

Anônimo disse...

Levamos pelo menos três vezes a idade desta menina para começarmos a aprender a usar bem a Língua Portuguesa. Achei não apenas a história o máximo, mas a forma como ela se expressa.

Muito legal mesmo.

paulo disse...

Lu...
Esse texto impressiona pela forma como nos conduz. Mexe com os sentimentos da gente com uma força inacreditável. A idéia vem, flui e emociona demais.
Difícil é acreditar que Alice tenha 12 anos e uma visão tão sensível, tão bela, tão madura... Sensibilidade sem fim...
Beijos

Maria Auxiliadora N F Nery disse...

Lu...
Alice Maria ou Lilica como costumo chamá-la, sempre nos surpreendeu com sua maturidade, sensibilidade e generosidade.É uma menina muito esperta, danada e com todas as características das meninas de sua idade.Porém, de uma percepção e criatividade que nos espanta às vezes.Adora ler e escrever.É do tipo que, literalmente transporta para o papel tudo que a incomoda ou a sensibiliza.E você, outra danadinha que é soube captar e colocar de forma linda uma imagem muito próxima da cena e expressão de Lili.
Obrigada.
Ficou lindo!!!
Estou uma tia bem orgulhosa.
Beijos
Dora

P.S.: Alice vai adorar.

Lucia disse...

Jorge:

Ela é brilhante, né?
Difícil imaginar que tem apenas 12 anos de idade.
Ela tem uma capacidade absurda de expressão e um vocabulário invejável.
Torço para que continue escrevendo mais e mais. Nós só sairemos ganhando, com certeza.
Beijos

Lucia disse...

Paulo:

Que percepção, que sensibilidade da Alice.
Fico imaginando a riqueza do mundinho interior desta pequena grande escritora.
Certamente veremos outros belos textos. Alguém que tem, como ela, a capacidade de observar e traduzir o cotidiano em emoções, ainda vai nos presentear com inúmeros momentos tão belos quanto esses.
Beijos

Lucia disse...

Dorinha:

Lembra quando você me falou do texto da Alice? Me interessei em ler de imediato, e de lá para cá virei uma espécie de bichinho chato te incomodando: cadê o texto, Dora? rs
As coisas parece que acabam acontecendo no momento certo. Se eu tivesse tido acesso a ele antes certamente o leria e arquivaria em um local em que pudesse relê-lo em outras ocasiões.
Agora, no momento certo,ele não se transformou num arquivo pessoal. Ele vai, com certeza, passar a fazer parte do arquivo emocional de todas as pessoas que a ele tiverem acesso.
Egoisticamente espero que a Alice realmente goste e que continue a escrever, escrever e escrever. Pode imaginar o quanto isso vai nos render de outros momentos maravilhosos? Eu nem consigo imaginar.
Beijos, querida!

paulo disse...

Lu:
Voltei e reli e reli.
Essa menina/mulher não pode deixar de escrever. Ela é simplesmente incrível. Inacreditável.
Se agora ela escreve isso... imagino essa escritora talentosa.
Envie a ela os meus cumprimentos e o meu respeito.
Beijos

Odele Souza disse...

Lucia,
Muito lindo o texto de Alice e você fez muito bem em publicá-lo no seu blog, pois além de nos presentear com o talento de Alice, publicar seus textos servirá de incentivo para ela, que já se nota, tem grande intimidade com as palavras. E estou certa que Alice já sabe que escrever é muito bom. Com o tempo ela vai aprender que escrevendo, tanto podemos falar de amor, como exorcizar a dor. E que em ambos os casos, ter quem nos leia, é fundamental.

Um beijo pra você Lucia e outro muito carinhoso para Alice.

PS. Obrigada por indicar o blog de Flavia para seu amigo Paulo.

Lucia disse...

Paulo:

Também já li uma porção de vezes, e em todas parece que descubro uma coisa nova. Excepcional, realmente.

Carol Timm disse...

Lucia,

É um texto belo e muito maduro para a idade de Alice Maria, de apenas 12 anos.

Ela tem uma rara percepção da vida para tão pouca idade.

Gostei imensamente e se ela tiver algum texto ou poema, um pouco mais leve, infantil até, que queira publicar na Casinha de Brinquedo, ficarei bem contente.

Beijos e um lindo domingo para todos!
Carol

Lucia disse...

Odele:

Uma gracinha a Alice, não é? Não a conheço pessoalmente, mas posso inferir o tanto de sensibilidade que possui.
Fiquei assombrada com a capacidade dela de entender a dor, com tão pouca idade.
Vamos torcer para que ela continue escrevendo.
Beijos a vocês duas.

Lucia disse...

Olá Carol:

Fascinante, não é? Alguns escritores já nascem feitos.
Falei a Alice do seu desejo de publicar os textos. Não a conheço o suficiente para saber se ela tem outros e, se os tem, se são mais leves ou não. Assim que tiver uma resposta lhe darei ou, ainda, tentarei colocá-la diretamente em contato com você.
Beijos

Professor Sergio disse...

Alice, querida o que falar pra você?

Tudo que vem da alma, que é feito com amor sai naturalmente e se torna belo...

Se algum dia escrever pra você se tornar um oficio, tente se lembrar disto...

Deixe a tua intuição, o teu coração a tua alma falarem por você e tudo será mais facil...

Seja sempre muito feliz e continue nos presenteando com estes belos textos...

Um grande abraço deste seu novo fã...

Anônimo disse...

Oi Lu

Terminei de ler um livro maravilhoso: O Caçador de pipas. O escritor, Khaled Hosseini, vestido de personagem, fala de sua primeira história escrita ainda na infância.
Só posso aqui, plagiando o que Klaled disse, repetir: ainda leremos muitos livros escritos por Alice Maria de Figueiredo Souza.
Ou, simplesmente, nossa pequena notável.

Mande a ela um beijinho meu e lhe diga que sou sua fã.

Lu,
Muito linda sua escolha. A foto é um recurso maravilhoso, quando cheguei ao "pé do texto" e li quem era a autora, inevitavelmente voltei a foto. Como se essa ali fosse a doce Alice.
Parabéns, amiga.

Muito bom gosto.

Etel

Lucia disse...

Etel:

Também já li esse livro. É muito bom, né? Estou lendo outro do mesmo autor: A cidade do sol. Se ainda não leu, procure ler. Vai gostar, com certeza.
Beijos

O Sibarita disse...

Aqui vai um recado para a dona menina Alice: VOCÊ É O MÁXIMO!

Lúcia, que bom você ter postado esse texto magnífico da Alice.

Não preciso dizer nada, o texto fala por si só!

bjs
O Sibarita